Vivemos em uma era de pressa. Compromissos se sobrepõem, agendas estão sempre cheias e, nesse ritmo acelerado, deixamos pouco ou nenhum espaço para o ócio — esse tempo livre, desacelerado, sem metas ou produtividade. E o que é ainda mais alarmante: essa lógica da aceleração tem alcançado também as crianças, privadas cada vez mais cedo do direito de simplesmente “não fazer nada”.
Mas o que perdemos, adultos e crianças, quando eliminamos o ócio das nossas rotinas?
Sem tempo livre, o corpo e a mente entram em desequilíbrio. Nos adultos, a ausência de pausas e momentos de descanso favorece o esgotamento físico e emocional. A criatividade enfraquece, o cansaço vira rotina, surgem sintomas como irritabilidade, ansiedade e até doenças relacionadas ao estresse, como distúrbios do sono, hipertensão e queda da imunidade. Nas relações sociais, o desânimo afasta e isola, tornando a vida uma sequência de obrigações esvaziadas de sentido.
Já na infância, o impacto é igualmente profundo. Crianças que vivem agendas lotadas, cercadas de estímulos constantes e sem tempo para o tédio, perdem oportunidades preciosas de desenvolver autonomia, autorregulação e criatividade. O ócio, longe de ser um problema, é um terreno fértil onde a imaginação floresce, onde o tédio se transforma em brincadeiras, invenções e descobertas. É nesse “nada” que a criança se encontra, exercita a escuta interior e aprende a lidar com suas emoções.
Pensadores como Bertrand Russell, Sêneca e o sociólogo Domenico De Masi já defendiam o valor do ócio como pilar da vida equilibrada e criativa. Para De Masi, inclusive, o ócio criativo — quando vivido com intencionalidade e prazer — pode ser tão produtivo quanto o trabalho, pois impulsiona a inovação, o bem-estar e o desenvolvimento humano.
O tempo livre não é desperdício. É pausa que cura, nutre e impulsiona. Para as crianças, é o brincar solto, a invenção do mundo. Para os adultos, é reconexão, renovação e clareza. Em todas as fases da vida, desacelerar é urgente.
Que saibamos valorizar os momentos de “nada”, pois é justamente neles que mora tudo o que realmente importa.